Hoje comemoramos o centenário de Maria Yedda Linhares, professora emérita e pesquisadora da História da UFRJ que marcou tanto a historiografia quanto aqueles que tiveram o prazer de serem seus alunos. Abaixo, um texto do Professor João Fragoso em sua homenagem.
"Há cem anos, no que foi a capitania de Siará Grande, nascia a Professora Maria Yedda Leite Linhares ou D. Yedda, como a chamavam seus alunos no início da década de 1980, depois de um longo exílio, quando da sua reintegração ao então Departamento de História da UFRJ. Então, hoje é dia de festa, de alegria, pois estamos comemorando uma das principais responsáveis pela profissionalização da historiografia brasileira. Em meio à formação e multiplicação dos cursos de pós graduação no Brasil entre os anos de 1970 e 1990, D. Yedda contribuiu para a reinvenção da Pós-Graduação de História da UFRJ, até então dominada por Eremildo Vianna – agente da cassação de diversos docentes de História e de outras áreas. Na mesma época, ela capitaneou na Universidade Federal Fluminense a criação da linha de pesquisa em História Agrária, geradora de uma série de dissertações e teses até hoje incontornáveis para o entendimento dos séculos XVIII e XIX. Mas antes desses anos, desde a década de 1950, seus cursos e orientações ensinaram a diversas gerações o ofício do historiador. Além disso, ela apresentou e sugeriu novas interpretações, com base em rigorosos métodos, técnicas e fontes primárias, de temas clássicos da história social brasileira (como escravidão e elites agrárias) e o desbravamento de novos objetos de pesquisa. No caso, refiro-me a temas como os lavradores livres pobres do século XIX, o mercado interno, as populações egressas da escravidão etc que, como ela afirmava eram "o lado escuro da lua", pois eram escondidos pela Casa Grande e mesmo pelas Senzalas. Desde suas aulas, o Brasil Colonial deixou de ser sinônimo de um grande canavial, povoado por senhores e seus escravos, submetido aos humores do comércio internacional. Com D. Yedda, o Brasil perdeu a inocência e começou a se ver e ser visto como uma sociedade responsável por sua História. A ela somos gratos."
João Fragoso
Instituto de História – UFRJ